domingo, 27 de julho de 2008

VITÓRIA RÉGIA, A DEUSA VEGETAL

VITÓRIA RÉGIA, A DEUSA VEGETAL

No mistério das águas profundas dos rios e dos lagos amazônicos há sempre uma estória para contar. Não há quem, tendo visto uma vitória-régia em toda sua plenitude, adornando um lago ou enfeitando um rio, possa esquecer aquele cenário de verdadeiro encantamento. O remanso dos rios ou o lago que é seu viveiro, são os espelhos de Jaci, a Lua, vaidosa e sedutora, reflete-se para chamar a atenção das caboclas que a têm como visão do amor.

No cume das colinas, as cunhãs esperavam o aparecimento de Jaci, acreditando que ela trouxesse o bem do amor, pois seu beijo tornava-as iluminadas, desmaterializando-as e transformando-as em estrelas...

Algumas maravilhosas lendas se teceram em torno desse assunto e, em uma delas, que descrevo logo abaixo, é a Lua, com toda sua magia, que irá criar a vitória-régia, para que tão bela quanto as estrelas do céu, se torne uma "estrela da água", com um perfume inconfundível que jamais foi dado a uma flor...

LENDA DE NAIÁ

Na manhã do mundo, no seio de uma primitiva tribo, contavam os velhos pajés adivinhos, Senhores de todos os segredos da natureza que, quando a Lua ainda era considerada um deus masculino e ainda quando esta se escondia por detrás dos montes da serra, coabitava com as virgens de sua predileção.

O encanto destes encontros era de tal grandeza e beleza, que os velhos sábios não possuíam palavras humanas para descrevê-los, deixando as entrelinhas a cargo de nossa imaginação.

Aconteceu que a jovem guerreira Naiá, filha do venerável chefe, princesa da tribo, de alva pele e cabeleira muito ruiva tal qual uma espiga de milho verde, se impressionara com a sugestiva fantasia daqueles amores lunares. E, por isso, no avançar da noite, quando o sono fechava a vida da taba, e a erótica divindade sedutoramente simulava tocar suas mechas de cabelo, a cunhã galgava as montanhas buscando mergulhar sua alma na insolvência daqueles luminosos afagos, tão exaltados pelos convincentes anciãos.

Afirmavam eles que a deusa hemafrodita, com a irradiosa insuflação dos seus beijos, transmutava em luz o corpo das virgens predestinadas, apagando-lhes completamente a tinta de sangue vermelha, vaporizando-lhes a carne. E fugia em seguida, conduzindo as afortunadas amantes, sugando-lhes a vida, para deixá-las, assim desmaterializadas, nos leitos nupciais das nuvens elevadas.

E, desta forma iam nascendo as estrelas do céu....

Naiá ansiava pela maravilhosa mudança do seu grosseiro e cotidiano viver terreno para aquela divina existência eterizada. Mas a realidade enganava-a constantemente, passava as noites perseguindo o noivo celestial que debruçava-se de colina em colina, cada vez mais fascinante, entretanto, mais fugitivo de sua doentia paixão.

A virgem guerreira, definha suspirosa e sofredora. Não houve poções, feitas pelas mãos miraculosas dos pajés, nem sobrenaturais sortilégios de elevada magia, capazes de curá-la daqueles obsessivos anseios. E assim, vivia essa jovem enferma, a vagar nas noites enluarada, dilacerando-se pelas íngremes escarpas, uma psicose viva, corporificada, entre lágrimas e soluços, cantando os seus delírios.

Certa vez, quando a sombra da insânia mais anuviava o toldo do entendimento, viu no espelho de um lago, feliz e tranqüilo, a imagem do pálido bem amado. Atirou-se em busca do ser iluminado, bracejando agônicos paroxismos.

Semanas inteiras a tribo debateu-se inutilmente em sua busca.

Os deuses selvagens, entretanto, eram bons e agradecidos. A Lua, que gerara as águas, os peixes e as plantas aquáticas, quis recompensar o sacrifício daquela vida virgem. Fê-la então estrela das águas, poema triunfal de cor e perfume, que cantará eternamente em nossa flora.

E, ao nascer do branco corpo da cunhã, a misteriosa flor, desabrochou com intensa candura de espírito na grande flor perfumada, transformando em espinhos toda a mágoa que tiranizava a jovem índia. Depois, dilatou o quanto pode, a palma de suas folhas, para tornar maior o receptáculo dos afagos da sua luz, amorosamente ofertada.

Todas as noites, Naiá desnuda-se, arrumando jeitosamente as esvoaçantes e longas pétalas, para receber, no tálamo das águas mansas, os beijos apaixonados do luar.

UMA LINDA LENDA GUARANI

Dois jovens indígenas se amavam, como sabem amar os que vivem longe dos tentáculos da civilização. Moroti, uma morena linda como Iracema e Pitá, um rapaz forte e o mais bravo dos guerreiros.

Viviam pelas matas correndo e caçando com que organizavam encantadoras grinaldas e pescando, na mansidão das lagoas, os peixes mais saborosos.

Um dia, Moroti quis experimentar até que ponto ia o amor que lhe devotava Pitá e, tirando do braço uma pulseira de contas silvestres, arremessou-a no rio Paraná, ao mesmo tempo que dizia:

-"Querem ver o que este guerreiro é capaz de fazer por mim?"

Estava a margem cheia de índios que ali haviam se reunido para uma pescaria, início de grandes folguedos. E Moroti não quis deixar escapar a oportunidade de mostras às suas amigas, como era amada pelo mais valente varão daquelas terras.

Assim que o bracelete da doce amada feriu a superfície das águas, Pitá, num mergulho nervoso, atirou-se no Paraná, procurando apanhá-lo.

Moroti ficou sorrindo, como só as filhas trigueiras das selvas sabem sorrir. As risadas dos que assitiam à cena, adveio um silêncio constrangedor, pois o índio não voltara à tona. As mulheres choravam, os homens lamuriavam-se, apenas Moroti continuava a sorrir...

Foi chamado às pressas o pajé, para explicar o que tinha acontecido.

A passos apressados veio o feiticeiro da tribo, e, depois de meditar profundamente, com voz compassada, explicou:

-"Pitá a esta hora está num palácio encantado, recebendo os carinhos da fada das água (cunhã payé)".

Moroti deixou de sorrir. E o pajé continuou:

-"Assim que Pitá mergulhou, a loira cunhã das águas levou-o para o seu palácio de diamante e, envolvendo-o nos seus cabelos, cobriu-o loucamente de beijos...É preciso libertar Pitá e somente uma jovem que o ame apaixonadamente poderá fazê-lo".

Moroti não quis escutar mais nada: amarrou pesada pedra aos pés e deixou-se envolver pelas águas numa renúncia adorável.

Durante todo o dia e quase toda a noite ficaram os parentes aguardando a volta do casal amoroso.

Aos primeiros albores do dia seguinte, viram todos emergir das profundezas das águas uma planta desconhecida, era "irupé": a Vitória Régia.

Do seio potâmico surgiu uma flor, um verdadeiro amor: grande, de cores vivíssimas, perfumada...As pétalas do centro eram alvas como o nome da donzela indígena, Moroti, e as da periferia, vermelhas como o do guerreiro Pitá. A flor irrompeu nas águas, esteve um momento acima do nível das mesmas, deixando espalhar seu perfume e rorejar gotículas, como se fosse uma jovem que saísse do banho... De repente, deu um gemido e desapareceu novamente, no seio das águas de onde despontara.

O pajé explicou:

-"Essa flor representa o amor vencedor. Moroti libertou Pitá dos meneios da feiticeira das águas que tantos guerreiros nos tem roubado. Façamos festa, cantemos, pois "cunhã payé" foi vencida pelo amor puro de Moroti."

E na margem do gigantesco rio, foi improvisada uma festança. Uma cantoria enfadonha exprimia o contentamento daquela gente que acreditava no pajé, que para eles era a encarnação da verdade.

A flor da Vitória Régia só abre de dia. Assim que a terra se cobre de luto da noite, a flor fecha-se de todo e submerge. Nesse momento Pitá e Moroti se abraçam e dormem profundamente até o dia seguinte embalados pelo movimento das águas.

Daquele sono amoroso nascem as sementes que perpetuarão a espécie, caindo ali mesmo no lado do fundo, ou levadas para outras plagas nos intestinos dos peixes e das aves, no pelo dos animais, pela torrente que balança os compridos pecíolos cobertos de acúleos, e pela mão do homem que estuda a Natureza e que ama o belo.

A Vitória-Régia ama as enchentes e as inundações. Á medida que as águas vão subindo, com elas vão crescendo os longuíssimos pecíolos, que, às vezes, atingem cinco metros de comprimento. Enquanto pequenos, esses pecíolos trazem nas suas extremidades superiores folhas em formas de setas, as quais se vão tornando cada vez mais oblongas até tomarem a face de uma enorme bandeja, quando as águas estiverem na plenitude da cheia. Algumas folhas chegam a cobrir mais de três metros quadrados de superfície azul ou esverdeada das águas onde vicejam.

Os maguaris, as garças e mil outras aves passeiam sobre as lagoas, em todas suas áreas, pisando nas largas lajes vegetais que coalham sua superfície e respiram a fragrância que se desprende das belíssimas flores que embalsamam e o ambiente com um aroma divinal.

Sua flor, chega a ter, em sua plenitude, até quarenta centímetros de diâmetro, e sua cor varia do branco ao carmim, exalando sempre o mesmo perfume incomparável. A época de floração é em janeiro e em fevereiro.

A raiz da Vitória-Régia é um tubérculo parecido com o do inhame, ao qual os indígenas dão o nome de "forno d'água", em função da sua forma ser semelhante a um tacho de torrar farinha. Esses feculentos tubérculos são grandemente apreciados pelos índios, como pelos habitantes ribeirinhos.

Se o nível das águas permanecer alto, estas belas ninfas aquáticas vivem cerca de dois anos. Se porém, as águas descerem, a Vitória-Régia vai definhando, como se a ela faltasse o alimento principal para viver, para o híbrido elemento é o nosso ar.

Em agosto, já se pode apreciar suas gordas cápsulas repletas de sementes que vão se depositando no lodo do fundo. Enterram-se na lama diluída que se endurece totalmente, assim que recebe diretamente a ação vivificante dos raios solares.

Encontram nas sementes, os homens e as aves, um delicioso alimento, esgravatando a terra onde se encontram sepultadas. Na procura desse extraordinário "irupé", o milho da água dos indígenas, agrupam-se garridos bandos de pássaros, exibindo-nos grandioso espetáculo. Com suas ricas e exóticas roupagens de plumas substituem, naquele cenário encantador, os largos mantos verdes enfeitados de flores das vitórias-régias. Esses pássaros levam consigo as sementes e deixam-nas em algum lugar. As águas arrastam também uma quantidade incontável de grãos. é deste modo que se propaga a existência da Vitória-Régia que é encontrada, desde os mananciais dos afluentes da esquerda do rio Amazonas, até os baixos tributários do Paraná e do Paraguai. Designam os botânicos essa dispersão provocada pelos pássaros de "florula ornitocórea" e de "hidrocórea", a produzida pela torrente.

A "Deusa Vegetal" dos lagos e rios, era conhecida dos guaranis que a chamavam de "irupé", outros indígenas tratavam-na de "iapucacaa". Seu nome, como conhecemos hoje, é devido à um botânico inglês, que maravilhado com e exuberância da planta, deu-lhe o nome da Rainha Vitória do Reino Unido.

A Vitória-Régia é conhecida também como "Estrela da Água", porque sua flor desabrocha completamente por volta da meia-noite, para submergir depois, quando fechada. Na manhã seguinte ela aparece e abrindo lentamente as pétalas, exala o mesmo perfume e irradia a mesma beleza.

Estrela das águas, poema triunfal de cor e perfume,

Que cantará eternamente em nossa flora.

Todas as noites desnuda-se,

Arrumando jeitosamente as esvoaçantes e longas pétalas.

Para receber no tálamo das águas mansas,

Os beijos apaixonados das noites de luar.

A LUA MASCULINA

É fácil aceitar que o Sol é um símbolo masculino e a Lua simboliza o feminino, mas nem sempre foi assim....

Tylor em seu livro "Primitive Culture", relata-nos que os índios brasileiros, quando em estado primitivo, adoravam e respeitavam a Lua e, conta-nos também, que os índios botocudos, davam à Lua a mais alta posição. Um velho relato, acrescenta ainda, que os caraibas consideravam a Lua mais que o Sol.

Na maioria destas consideradas tribos, a Lua era freqüentemente chamada de o "Senhor das Mulheres" e acreditavam que ela era o marido permanente das jovens índias. Os homens acreditavam que sua função era meramente romper o hímen e abrir caminho para o raio lunar entrar, engravidando-as.

A Lua não era, entretanto, tão somente fonte fertilizadora das jovens guerreiras, mas era considerada também como fonte de proteção e guardiã de todas as suas habilidades. Plantar, cultivar e colher era tarefa feminina. Acreditava-se que só as mulheres podiam fazer as plantas germinarem e crescerem, pelo justo motivo, de somente elas estarem sob a proteção direta da Lua.

A mudança do deus da Lua para a deusa da Lua, só se concretizou com o advento da adoração do Sol. Este último, tomou para si todos os atributos fertilizadores, que pertenciam ao deus da Lua, seu antecessor. As religiões posteriores a este acontecimento, encontraram a Lua já tipicamente representada por uma deusa-mãe, um protótipo de mulher, o eterno feminino.

É difícil estabelecer um nexo-causal destas associações na comunidade científica atual. Mas mesmo assim, estas idéias, sobreviveram até nossos dias, muito embora sua significação verdadeira só seja percebida vagamente.

Não existe nada mais lindo e romântico do que uma bela noite enluarada e sabemos que tal vislumbre mexe com nossos hormônios sexuais, mas seus mistérios, permanecem desvendáveis...



UMBÚ, ÁRVORE-SÍMBOLO DA HOSPITALIDADE
"Quem se introduz nos bosques de umbuzeiros, recorda subitamente incidendes de sua infância".


O viajante desprevenido pensará que é cedro, um dos legendários cedros do Líbano, com os quais o rei Salomão construiu o Templo de Jerusalém. Pois deles tem a forma na voluta da fronde e na coluna do tronco vertical.. Possui a impetuosidade e a doçura refletida no arredondado de sua copa submissa e disciplinada, nascida da benção do Criador.




A LENDA (segundo Barbosa Lessa) ...


Na infância dos tempos, as árvores eram todas iguais. Mas, um dia Deus estava muito contente, porque os diabos e os homens maus haviam sido derrotados e resolveu então comemorar, satisfazendo a vontade das árvores.


Perguntou para coronilha como ela gostaria de se tornar e ela respondeu que queria ser tão dura a ponto de resistir à golpes de machado.Perguntou ao molho, ele disse que queria saber assobiar. Perguntou para figueira do campo, ela falou que queria ser muito forte, muito alta, muito bonita.


E assim..Deus ia satisfazendo o pedido de todas as árvores.


Quando chegou a vez do umbú, este disse que queria ter o corpo muito fraco, uma madeira à-toa, mas queria ser grande, para poder fazer sombra e abrigar os homens.


Deus satisfez a vontade dele, mas curioso, perguntou porque desejava se tornar uma madeira tão fraca e mole, enquanto que todas as outras árvores queriam ser fortes e duras. Então o umbú explicou-lhe que não queria que sua madeira pudesse servir, algum dia, para cruz e sacrifício de um santo. E desde daí, o umbú é assim...


Phytolaca dioica é conhecida como umbú (ombú na Argentina) nativa do Rio Grande do Sul e nos pampas da Argentina. Alguns botânicos a classificam como uma erva gigante já que não possui lenha, mas um tronco mole e fibroso, porém resistente. As folhas cozidas, em aplicações externas, servem para combater sarna e feridas que não cicatrizam, no entanto não devem ser ingeridas já que causam diarréias violentas. É uma árvore quase não habitada por pássaros. Durante a noite, de suas folhas se desprendem emabações nocivas à saúde.


"Umbu" é indicado para a realização de metas, propósitos pessoais, que demandam perseverança e trabalho. Esta essência ajuda a proporcionar força e disposição para a realização dos pequenos e necessários passos, visando maiores metas.



ASSOMBREANDO A HISTÓRIA...


Sabe-se que na época do descobrimento os indígenas plantavam, junto ao sepulcro de seus maiores, um umbú. Pode ser por isso que lhe foram atribuídos aspectos tristes como aos ciprestes ou salgueiros.


Era crença india, que uma árvore solitária no caminho, como acontece ordinariamente ao umbú, era habitada por espíritos e para conjurá-los era preciso atar-lhe pedrinhas cobertas com pedaços de roupas.


Há umbús históricos, em cujas sombras já foram discutidas assuntos de relevante importância. À sombra de seus galhos já abrigou indômitos guerreiros. Primeiro os que defendiam a pátria contra os estrangeiros, depois o gaúcho monarquista em defesa de seu Monarca Imperial e por último, os filhos deste na defesa de idéias que lhes conduziram a um destino melhor. Todos foram morrendo, mas o umbú continuou lá. À sua sombra brincamos quando crianças e nos abrigamos do calor do sol na velhice...E ele ainda permanece lá, alegre e forte! Quanto maior a seca, mais verde ele fica. Quanto mais fria a geada, mais ele floresce.


O umbú personifica o vulgo ignaro, que no seu modo de pensar tem muito do homem primitivo, as forças da natureza e todos os objetos que as manifestam.


A esta árvore também foi associada efeitos maléficos e chegou-se a acreditar, certa época, que por influência do umbú acontecia a ruína dos lares e das famílias. Muitos acreditavam que era chegado o momento da ruína da casa quando lhe tocavam as raízes do umbú nos alicerces. Não é tão fácil desrraigar um umbuzeiro. Por mais que arranquem as raízes e restos, não se consegue a sua exterminação e a casa acaba sendo abandonada. Assim, era muito natural que junto de uma tapera se encontrasse um umbuzeiro, o que gerou um velho provérbio: "Casa com umbú, acaba em tapera".


O Umbú é uma árvore típica que enfeita a paisagem sul-riograndense, oferecendo sombra amiga e hospitaleira, nos campos e nas coxilhas, onde o gaúcho dorme a sesta e a gurizada brinca, buliçosa, com os cuscos das fazendas. Junto do umbú encontram guarida o carreteiro, o gaúcho andejo, o tropeiro e os mascates de longas caminhadas. Bálsamo e conforto contra as invernais, refúgio contra o sol causticante dos verões, o umbú é a árvore-símbolo da hospitalidade do povo gaúcho. Seja manchado de verde à luz do dia, seja quando a noite vem chegando sobre o pampa e ele se recorta em silhueta graciosa contra o horizonte, parece nos chamar ao repouso, em um mudo aceno:


"CHEGUE-SE, AMIGO!"


sábado, 26 de julho de 2008



O TEMPO DO AMOR


As fadas são grandes apaixonadas como nós. E uma estranha fatalidade faz com que experimentem suas maiores paixões por simples mortais, bem mais que por outros seres do Reino das Fadas. Desse modo, os homens que por azar do destino, venham a conhecer uma fada, não podem escapar do amor louco que ela desperta neles.
Mas de onde vem esta atração mútua e irresistível? Ninguém sabe, mas as lendas, relatos ou crônicas populares abundam em histórias de amor que colocam em cena o homem e a fada.
Eis aqui o testemunho, coletado no ano de 1849, de uma senhora que vivia em Arinthod (região pertencente a França):
"Um de nossos criados, chamado Félicien, foi levar os cavalos para o pasto no prado da ilha onde vivo e avistou pequenas senhoritas brancas. Era época da seca do feno.
Havia pilhas de feno amarrados e soltas na pradaria e lindas sílfides dançavam ao seu redor, tão rápidas, de um modo tão gracioso, que era uma maravilha. Nosso bom Félicien ficou fascinado com o grande espetáculo. Voltou para casa com um ar de encantamento inexplicável e nos descreveu o melhor que pode a beleza, a graça e a natureza diáfana daquelas pequenas criaturas de Deus; e tão belas eram que havia se apaixonado por elas no ato. De bom grado havia pedido uma em casamento, por seus traços, por sua elegância, pelos diamantes de todas as cores que brilhavam em seus dedos, seus braços, no pescoço, na cintura...."

O s amores que ligam as fadas e os homens a maioria das vezes, estão fadados ao insucesso, pois os seres dos Reinos das Fadas e os humanos pertencem a universos diferentes e só podem encontrar-se em lugares incertos que determinam a fronteira entre esse mundo e o outro.
Nos relatos e contos novelísticos, a fada sempre aparece ao herói no coração de um bosque sombrio, perto de uma fonte ou de um arroio. O homem está sempre só, perdido, debilitado, e não tem nenhuma possibilidade de resistir a ela, bela como nenhuma, e se oferecendo desse modo. No mesmo instante esquece qualquer outra paixão terrena e se entrega de corpo e alma a sua nova Dulcinéia. Pede sua mão e nada parece poder desfazer o sucesso dessa mútua paixão.
O amor da fada por seu companheiro humano é total, e é de uma fidelidade a toda prova. Pode permanecer com seu eleito até o final dos tempos. Evans Wentz evoca um caso de uma fada que não vacilou a acompanhar seu amante mortal até a América do Sul.




REGRAS FEÉRICAS

Entretanto, a felicidade dos apaixonados em geral, é de curta duração. A aliança com a fada está sujeita a condições que os mortais costumam desrespeitar. Não que sejam particularmente complexas ou difíceis de satisfazer, ao contrário. As regras que regem o Reino das Fadas são banais e inclusive insignificantes. Os mortais as tomam como caprichos da fada e não lhes prestam muita atenção. Não demoram muito para transgredi-la, sem se darem conta, violando assim seu juramento, perdendo para sempre o amor da fada e deixam de ter acesso definitivamente ao Reino das Fadas, que lhes havia entreaberto a porta de seus domínios encantados. De volta a sua condição primitiva de simples mortais, vagam pelo mundo como almas penadas antes de morrer de tristeza e nostalgia.
Entre os tabus que regulam as relações entre fadas e mortais podemos citar a proibição de chamar o ser do Reino das Fadas pelo nome, de evocar sua existência diante uma terceira pessoa, de pronunciar certas palavras ou aludir a certas pessoas em sua presença, de recordar-lhe suas origens, pegá-lo ou tocá-lo com um objeto de ferro. A menor infração, a fada desaparece e abandona seu amante de carne e osso a sua triste sorte.


O AMOR ÉLFICO

Também os elfos buscam ardentemente o amor das mortais. Na Irlanda se conhece um elfo chamado Ganconer, nome que significa "o que fala de amor", jovem de olhos negros e brilhantes, cujas belas palavras seduzem as jovens que andam sozinhas pelos bosques, ao cair da noite. Pobre daquelas que se deixam abraçar por ele, pois não tardarão a morrer de languidez, depois que seu amante élfico a saciar de carícias! Um provérbio irlandês afirma: " Quem encontra Ganconer pode tecer seu sudário".
Outro elfo, esse originário da Escócia, se vingou cruelmente de uma mortal que havia lhe jurado amor. O elfo desapareceu por sete anos, contando com a fidelidade de sua amada. Entretanto, essa terminou por cansar-se de esperar e casou com outro homem, do qual teve um filho. Ao seu regresso, o elfo fez de tudo para seduzir novamente a jovem. Propôs raptá-la e fugir em um navio de ouro que navegaria empurrado por um vento mágico. A mulher abandonou o marido e o filho para embarcar com o amante. Mas, assim que zarparam, o elfo suscitou uma terrível tempestade. O barco afundou e a mulher infiel com ele.
Os elfos nem sempre são belamente jovens, muitas vezes possuem alguma deformação física, podem apresentar os pés tortos ou voltados para trás, orelhas pontiagudas, rabo de vaca, não terem nariz ou serem estrábicos.

Desde os primeiros tempos clássicos, as lendas das visitas de deusas e ninfas a mortais humanos e sua relação com amorosa com eles sempre comoveu a humanidade por sua tragédia e esplendor; pois o final de todas essas relações entre imortalidade e mortalidade têm sido trágico.